11.12.10

As últimas de Zurique



ETH-Zürich, um exemplo a seguir



Quando cheguei, perguntei aos meus colegas aqui do ETH como é que a Suíça estava a reagir à crise financeira. A resposta foi: “Qual crise?!”. A análise desta resposta não cabe neste post! Mas é muuuuuito interessante ...



Durante uma pausa para o café das 8 da manhã (aqui é comum começar-se a trabalhar às 7 ... da manhã) discutia-se a crise financeira mundial e a forma como os bancos deixavam as pessoas endividarem-se, quando uma aluna de doutoramento disse: “Aqui isso não é possível porque o banco não permite que as pessoas de baixo rendimento (menos do que qualquer coisa como 5 ou 6 mil euros/mês!) utilizem, a crédito, mais do aquilo que têm depositado no banco. E começamos a desvendar alguns dos segredos da ausência de crise financeira ...



Como se constrói e mantém a maior instituição europeia de investigação e de ensino superior - o ETH-Zürich? Esta é a pergunta que deve ser feita por aqueles que almejam um dia ser alguém, sobretudo por aqueles que têm o poder de decidir o futuro da Universidade Portuguesa. A vermelho, na imagem acima, está assinalado o ETH-Zürich (Instituto Federal de Tecnologia, em Português), e a azul a Universidade de Zurique. Ambos os edifícios são imponentes, mas o ETH é significativamente maior. Não porque tenha mais alunos (na realidade tem aproximadamente metade), mas porque tem quase o dobro do financiamento. Daqui se depreende que aqui, ao contrário de Portugal, o financiamento não depende do número de alunos, mas sim da relevância da investigação que se pratica. E aqui as palavras Investigação e Ciência não são eufemismos, são para se levar a sério.


O edifício das Geociências (assinalado a vermelho) não tem a dimensão do edifício central do ETH (a verde), mas ainda assim mostra bem a importância que as Geociências têm para o ETH.


Um aspecto do exterior do edifício das Geociências. Aqui não se é promovido por se ser amigo do chefe, aqui é por competência. E aqui é motivo de grande orgulho e celebração ser-se reconhecido pela instituição e ser-se nomeado para os seus quadros de efectivos. Porque é que nós não somos capazes de aprender com estes bons exemplos?! Aqui vai uma primeira resposta: no topo da carreira, o Full Professor (equivalente ao nosso Professor Catedrático) volta ao contrato por 6 anos, ao fim dos quais é rigorosamente avaliado durante 3 dias (administração, ensino e investigação). Se não for avaliado positivamente ... venha o próximo. Assim já se começa a perceber porque é que em Portugal não se quer aprender com os bons exemplos.


Vista panorâmica do interior do corpo central do edifício das Geociências. Ao centro está a torre com exposição permanente de materiais didácticos/pedagógicos, e em baixo um grande átrio para exposições temporárias. Este espaço está aberto ao público, incluindo Domingos. Aqui se atrai a juventude que um dia frequentará o ETH.



Um dos espécimens em exibição na torre central; grandes cristais de quartzo cheios de agulhas de rútilo (dourado). O cristal ao centro tem quase 40 cm de altura.


Outro espécime de grande beleza; aglomerado de cristais de quartzo de grande dimensão (quase 1 m de ponta a ponta).


Este espécime, com mais de 200 kg, foi oferecido por mim ao ETH. Como aqui se reconhece a importância científica/didáctica/pedagógica deste exemplar, de imediato foi exposto no átrio central no piso da Geologia Estrutural e Tectónica. Antes de ser transportado para Zurique, este belo exemplar de comportamento fluido das rochas foi por mim cedido ao meu departamento para ser exposto no átrio de entrada ... mas passou anos enfiado numa cave a encher-se de pó, ao fim dos quais decidi oferecê-lo ao ETH ... porque aqui financiaram integralmente o trabalho experimental por mim realizado no meu ano de sabática, e porque aqui reconhecem a relevância daquela rocha. Em Portugal o meu projecto de financiamento de sabática foi rejeitado, e a bela rocha foi tratada como uma qualquer pedra atirada para o chão de uma garagem.



O IVA aqui vai aumentar! Que horror! ... para 8 e pouco por cento a partir de Janeiro de 2011 (presentemente é de 7 e tal)! O nosso IVA vai aumentar para quanto?! Quase 3 vezes mais do que na Suíça?! Ainda gostava que um economista me explicasse como é que isto é possível. Alguma coisa está errada! Há uns 5 anos, estava eu em Zurique quando houve um referendo (aqui referenda-se tudo o que é importante) sobre o número de horas de trabalho semanal; qualquer coisa como passar de 45 horas para 39. Adivinhem lá qual a versão que ganhou!


Anteontem fui pegar o meu almoço aqui ao Italiano do lado, paguei com uma nota de 50 ... mas esqueci-me de apanhar o troco! Um dia depois, ontem, voltei ao dito Italiano e disse ao empregado que, no dia anterior, tinha pago a conta de 12 francos com uma nota de 50 mas não tinha levado o troco. Ele olhou para mim e disse: "Não me lembro, mas não faz mal, aqui está o seu troco de ontem, 38 francos." Sem mais comentários ...



1 comentário:

Eduardo Martinho disse...

Nesta entrada há muita informação para digerir... mas a que mais me impressionou foi a respeitante à amostra geológica que ofereceu ao ETH! Dá Deus nozes a quem não tem dentes...
Bom regresso. Até breve.
Um abraço,
Eduardo