25.11.11

Do outro lado do Atlântico


Crónicas da Florida

O primeiro dia de viagem foi uma odisseia como há muito não me acontecia. Nem para os países mais pobres do planeta.

Para começar, levantei-me às 03:00 da madrugada. Para não variar, o avião saiu tarde de Lisboa. Pelo menos vi de lá de cima o nascer do sol (ver foto abaixo). Como gato escaldado de água fria tem medo, dei um bom tempo de intervalo entre o voo de Lisboa-Madrid e o de Madrid-Miami. Estava eu sentado na gate anunciada, quando a hora de embarque passou e decidi ir perguntar à menina se o voo estava atrasado; ao que ela me respondeu que a gate tinha sido alterada. Mas ninguém sabia, e a menina lá anunciou a alteração e mudámos todos para a nova gate. Qual o meu espanto quando reparei que nos aguardava um autocarro, e não a manga de acesso directo ao avião. Isto num terminal em que todos os aviões são de longo curso e estão ligados às mangas. O autocarro lá arrancou, deu a volta à extremidade do terminal, e parou pouco depois em frente ao avião que estava na manga da gate inicial! Claro, só que agora não havia escadas para entrar no dito, pois ele estava ligado à manga. Isto pode parecer anedota, mas não é! Ficámos mais de meia hora em pé na lata de sardinhas que era o autocarro ... à espera que alguém resolvesse trazer as escadas. Claro, partimos de Madrid com mais de uma hora de atraso! A odisseia continua em baixo. Agora uma foto para relaxar.


Nascer do sol a caminho de Madrid.


No check-in em Lisboa, pedi à menina que marcasse o meu lugar junto à janela do lado esquerdo do avião, para poder fotografar as famosas Florida keys a partir do ar à chegada. Estes aviões grandes têm 4 lugares na fila do meio e 2 junto das janelas. Adivinhem lá onde a menina marcou o meu lugar ... pois, na fila do meio! Lá se foram as fotos ...

Bom, lá chegámos a Miami ao fim de cerca de 9 horas de viagem. Primeira tormenta: a longa fila dos passaportes. Lá chegou a minha vez, e sou atendido por um sul-americano de gema. Entreguei-lhe a papelada toda (o visto e os impressos que nos deram para preencher no avião). Pôs o visto de lado, deu uma olhada aos impressos, e sentenciou num Espanglês delicioso e rude: estes não são os impressos apropriados para si; vá ali fora e preencha outros. Ao que eu respondi: mas estes são os únicos impressos que nos dão no avião. Com ar de mau, virou-se para mim e disse, agora num castelhano arrevesado porque já tinha percebido que eu era Português: no culpe las aerolíneas, la culpa es toda sua! E eu: mas eu até já tenho o visto e tudo (mostrando-lhe o papel que tinha posto de lado)! E ele: ah, bueno, está aqui. E sem pedir desculpas do engano, dele, pôs-se a carimbar impressos e a digitalizar-me os dedos todos de ambas as mãos. No fim, quando já me preparava para seguir para a tormenta seguinte, veio a pergunta da praxe: quando e onde esteve pela última vez nos EUA? Felizmente que me lembrava, pois foi com a minha Teresa numa viagem inesquecível a Nova Iorque e Boston para o Congresso do SCRATCH.

Segunda seca: ver as malas a passar no tapete rolante até finalmente apanhar a minha.

Terceira seca: fila interminável para passar a alfândega e entregar o impresso dos vegetais e dos chouriços. Nem tudo correu mal; desta vez foram com a minha cara e não me vasculharam a mala.

À primeira pessoa fardada que vi, perguntei onde ficavam as companhias de aluguer de automóveis, ao que ela me respondeu: saia do edifício, suba ao 3º piso no elevador, e é aí. Saio do edifício, mas elevador nada. E pergunto a um indivíduo fardado e com ar de entendido onde podia encontrar o rent-a-car. Ao que ele me respondeu: volte para dentro do edifício, junto da parede verde tome o elevador para o 3º piso, e aí apanhe o trem para o terminal de aluguer de automóveis. E eu disse-lhe: mas a sua colega acabou de me dizer que era aqui fora, e não falou em trem nenhum. E ele rispidamente para mim: OK, se quer encontrar as rent-a-car aqui fora esteja à vontade! E virou-me costas. Tudo isto depois de eu ter tentado telefonar para a dita agência, mas sem qualquer sucesso. Bom, o tipo pareceu-me bem mais entendido do que a colega, e lá segui as instruções dele. E finalmente lá cheguei ao local certo, onde me aguardava mais uma fila interminável. A menina atendeu-me muito bem, e lá fui eu para o meu carrinho económico. Aguardava-me um Suzuki todo moderno e novinho, com espaço para uma família. O problema é que era todo cheio de modernices e automatismos, para os quais é necessário um manual de instruções! Ao fim de 15 minutos de volta dos comandos principais, lá percebi a lógica da coisa e aí vou eu para as estradas americanas. Nisto dei comigo a pensar: todas as pessoas, sem excepção, que me atenderam ou a quem me dirigi para pedir informações, eram hispânicas!

Lá dei com o hotel, não havia lugar para estacionar à porta, andei mais 50 m e encontrei um pequeno parque, onde estacionei. Chego ao hotel, procuro a recepção ... mas nada! Dei voltas e voltas, mas nada de recepção. Vejo um casal e pergunto onde é a recepção. Resposta: isto não tem recepção, ali do lado de fora tem um intercomunicador, marca 000 e fala com o senhor que atender. E assim foi, lá falei com o senhor, que mais parecia um surfista do que um recepcionista, e que me cobrou a estadia e me confidenciou que em tempos idos tinha namorado uma Açoriana! Pousei tudo no quarto e reparei que me tinha esquecido do poster para o congresso em São Francisco na Califórnia. Voltei ao carro ... mas o lindo Suzuki branco já lá não estava!!! Como não sou dado a pânicos e penso positivo, pensei porque razão alguém me teria levado o carro. Será que estou mal estacionado? Voltei à rua e não vi tabuleta nehuma de estacionamento proibido. E volto para dentro do parque à procura de algum sinal ... e lá estava, escondido no meio das palmas de uma pequena palmeira. E até dizia o número do telefone da empresa de reboques! Voltei ao hotel para pedir ajuda ao "intercomunicador", ao que me respondeu que não estava disponível, mas que pedisse ajuda no café em frente. Este era na realidade um hotel, com recepcionista propriamente dito, que foi de grande simpatia e telefonou para os ditos reboques que confirmaram terem lá o meu carrinho. Apanhei um táxi, conduzido por um russo, para variar, e lá foram os primeiros 10 $US dos 200 que tinha acabado de levantar, pois disseram-me que teria de pagar cerca de 130 para levantar o carro. Chegados aos reboques, tentei explicar à senhora que era um turista, que não tinha lugar em frente do hotel para largar as bagagens, e que a tabuleta estava virada de costas para a entrada do parque e escondida entre as folhas das palmeiras. Ela virou-se para mim, e sem pestanejar sentenciou: são 210 $US, sem apelo nem agravo. E disse eu: mas eu nem sequer tenho esse dinheiro comigo, posso pagar com cartão? E ela: não, não pode, tem ali uma ATM e vá levantar dinheiro. O resto da odisseia continua a seguir à foto da tabuleta.


Como se pode ver, a tabuleta não é propriamente visível para quem entra no parque (de onde foi tirada a foto). Se não é de propósito para apanhar turistas incautos ...



Com tudo isto já passava da meia noite, e decidi ir comer uma coisa leve antes de me deitar. Fui para a famosa Ocean Drive, que fica a 100 m do meu hotel, procurei uma esplanada (aqui estão vinte e tal graus), e uma menina toda simpática (voltámos aos hispânicos) até me ofereceu 20% de desconto (no jantar) se eu ficasse por ali. E assim foi, vi na lista uns pennes a l'arrabiata a 13 $US e encomendei. E outra menina, mas também hispânica, perguntou se não queria acompanhar com uma Corona (mexicana, para não variar), e eu disse que sim. Conta no fim: 26.9 $US ... isto com 20% de desconto! Eu explico: àqueles 13 subtraem-se os ditos 20%, mas depois ficamos a saber que a cervejinha custou quase 9 $US, e as taxas e pagamentos dos empregados fazem o resto até perfazer aquela soma. E pronto, assim termina o meu primeiro dia em Miami, na Florida. E mais não digo para não ser desagradável ... deixo-vos com um pôr do sol visto daqui de South Beach.










Florida Keys - de Miami a Key West



As famosas Florida Keys ...



... fabulosas, com mares quentes de coral. Vistas no chão não são tão bonitas como vistas de satélite. Mas é um sítio fantástico para se viver ao estilo tropical.













Levantar às 04:00 da madrugada, falar com a Teresa no Skype (para ela já são 09:00 da manhã), tomar um duche, e zarpar para tentar estar ao nascer do sol nas Keys.



... e apesar dos limites de velocidade baixíssimos e proibições de paragem, lá consegui chegar a tempo de ver um nascer do sol fantástico!



... esta gente sabe levar a vida como ninguém. É fácil imaginar o estilo de vida que se vive aqui, não é?!



Consigo imaginar-me a acordar, e cambalear até um mergulho nestas águas quentes cheias de corais e peixes. E chegar ao fim do dia e ir pescar um para um jantar à beira-mar ...



E pronto, de volta a Miami Beach ...



... onde também se pode observar cenas como esta na Star Island. Cada um estaciona à porta de casa o que pode!



E pronto, mais um dia se acabou com um pôr do sol para contemplar e recordar.



... um pouco mais tarde...



... e chegou ao fim!



Um pequeno parêntesis para uma incursão nas peculiaridades da vida actual. Ia eu a sair do hotel às 05:00 da madrugada, quando passou à minha frente, e eu segui, um casal muito sui generis: ela, um mulheraço negro de 1.80 m, físico escultural, pernas bem torneadas a sair de umas botas de cano alto e saltos de 15, um bum-bum, ao melhor estilo brasileiro, moldado por umas jeans bem justas, e um decote, até ao umbigo, de onde sobrasaía um peito de plástico ao melhor estilo playmate; ele, um jovem já com um grãozinho na asa, meio metro abaixo dela, de mãozinha dada com a sua grande conquista da noite. É bem verdade que, em circunstâncias como esta, o cérebro dos homens fica reduzido a zero. Em circunstâncias normais, o jovenzinho teria logo percebido que ali havia qualquer coisa de errado. Como é que um zé-ninguém como ele tinha conseguido pescar um peixão daqueles?! Bastava ter olhado para a tão característica maçã de adão ... Deixo à vossa imaginação o que terá sido o fim da noite daquele pobre moço (hispânico, para não variar). Seja qual for o grau da vossa imaginação, uma coisa é certa: o jovem ou mudou de "team", ou deixou de beber!


Uma manhã nas Everglades



O dia a clarear, antes do sol nascer.


Agora sim, o sol a nascer ...



Visto de mais de perto ...



E já nascido.



E com o dia já claro começa-se a ver a bicharada.



Aos primeiros raios de sol há que absorver a energia e aquecer antes de ir para dentro de água pescar.



Mais um para a colecção dos empecilhos de estrada. Empecilho, mas com elegância!



Pronto, já saí da estrada ... agora vou atravessar para a outra margem para os arranjos matinais.



Primeiro aqui debaixo da asa ...



... isto é muita pena para olear e arrumar!



Mais de perto para se ver melhor o primor do serviço ...



... e agora deste lado. Isto é uma canseira logo de manhã!



Menos pomposa, mas ainda assim bonitinha!



Um cardeal vermelho.



Companheiros de pescaria ...



... linhas cruzadas!



Já ando nisto há demasiado tempo, já estou com arrepios!



As penas do pescoço parecem uma estola de pêlo.



Hum, acho que estou a ver ali qualquer coisa ...



... ah, se calhar são mais olhos do que barriga. Deixa-me cá pôr a andar antes que vire refeição deste tipo!

Tão quietinho e tão próximo que até dá vontade de fazer festas!



Alguém tirou a tampa do ralo! A propósito, informou-nos o nosso guia que as Everglades não são pântanos, mas sim um rio.


Até parece que está a dormir, não é?



Pois, mas não está! Os incautos que se cuidem que estes tipos não estão ali para brincar ...


As Everglades de manhã cedo ...



... idem ...



... idem ...



... idem ...



O nosso guia a dar explicações sobre o modo como as águas são naturalmente filtradas e limpas.



Piscina de aligator ...



Ainda as Everglades ...



... uma planície a perder de vista!



Isto é que é vida! Caçar incautos à noite, e espalmar-me aqui ao solinho para aquecer o meu sangue ... que é frio. Não sou como vocês, de sangue quente, que fervem por dá cá aquela palha ...



Vá lá, tirem daí a carripana que já estão a fazer sombra ...



Este sim, já é um exemplar de respeito. Deve ser o machão cá do sítio...





... e mostrou que não está ali para brincar!



Este ainda não se fartou da água!


 
Já eu estou farta de água. Olha-me para o estado em que tenho estas penas!



Vou passar-me para ali, para o lado do sol, e secar as penas ...



... primeiro de frente ...



... agora dou uma voltinha a bater a asa ...



... agora de costas para o solinho ...



... e pronto, mais um solinho de frente e já está ...



... e estou pronta para outra caçada subaquática. Mas acho que estou aqui com um probleminha no pescoço!



2 comentários:

Eduardo Martinho disse...

Olá Fernando!
A sua crónica é absolutamente deliciosa, fotos e peripécias incluídas.
Bom resto de estadia!
Um abraço,
Eduardo

Rocio disse...

Que belas fotos, espero que, em algum momento de fazer uma viagem como a única coisa é que eu estou tentando encontrar um destino diferente, porque eu estive lá, eu acho que tem que reserve seu hotel para os melhores destinos